15 dezembro, 2006

Sobre dúvidas e questionamentos...

“Uma alma que não duvida, não questiona e não busca por nada é uma alma leviana” (Santo Agostinho).

Maria, porém, disse ao Anjo: “Como é que vai ser isso, seu não conheço homem algum?” (Lc 1, 34).

Há um tempo atrás eu lia esse versículo e achava Maria uma descrente...
Como pode alguém questionar os planos de Deus?
De certo, nessa época eu ainda sabia muito pouco sobre mim mesmo...
Sabia quase nada da minha humanidade e como a santidade cresce nela e através dela...
O santidade não apaga a minha humanidade, pelo contrário, a enche de sentido...
Mas o que isso tem a ver com dúvidas e questionamentos?
Tem a ver porque duvidar e questionar é próprio da natureza humana, e cada vez mais descubro que através desses atos Deus se manifesta poderosamente na minha vida.
Com certeza, nunca terei todas as respostas que procuro neste mundo, mas buscá-las é preciso!
Não tem nada de mal na dúvida e no questionamento, o problema é se realmente estou disposto a enfrentar a “angustia” proveniente deles e se me comporto como alguém que quer encontrar...
Eu preciso ter um coração acolhedor para receber as repostas de Deus que tantas vezes são grandes surpresas pra mim...
Infelizmente a minha tendência é questionar e duvidar, mas sem dar uma chance de algo inusitado acontecer e atender aos meus anseios.
Procuro como quem já conhece o que procura... Isso não é bom!
Não me abro ao novo, não tenho um coração acolhedor como Maria teve...
Ela deixou que o anjo trouxesse uma resposta ao seu questionamento e então se confortou...
“Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1, 38)
Além do mais, quando eu duvido dou a oportunidade da renovar a minha fé...
Quando não duvido, posso não deixar que as informações atinjam o profundo do meu ser e passem a, realmente, fazer sentido pra mim...
Quantas vezes eu aceito um direcionamento de outra pessoa e em pouco tempo aquilo passa a não fazer mais sentido pra mim?
Eu posso aceitar o conselho de um amigo, mas definitivamente se essa sugestão não satisfizer os meus anseios internos, será muito fácil de ser esquecida...
É através dos meus questionamentos, ou seja, busca por respostas que tenho mais chance de encontrá-las...
É muito mais difícil encontrar algumascoisa que eu não esteja procurando, pois posso me deparar com essa coisa e não me dar conta de que ela é muito útil pra mim.
Questionar os planos de Deus e seus projetos pode refletir muito mais interesse do que descrença...
Mas repito:
Preciso ter um coração acolhedor e estar ansioso por encontrar as respostas que o próprio Deus tem pra mim.
É questionando e duvidando que as informações passam a fazer sentido na minha vida...
Não quero viver superficialmente!

07 dezembro, 2006

Aqui é meu lugar...

"...Teresinha percebeu que as flores convivem harmoniosamente nos jardins do mundo inteiro. Não há disputa entre elas. Cada uma perfuma e enfeita a vida das pessoas, os vasos e as casas, com os atributos que o Senhor lhes concedeu. Compreendeu que todas as flores são belas, "... que o brilho da rosa e a alvura do lírio não impedem o perfume da pequena violeta ou a simplicidade encantadora da margarida" (Manuscritos Autobiográficos, 3f). A suntuosidade da rosa, sempre procurada e admirada, não oprime as flores menores, que salpicam os campos de alegria. Ainda bem que as humildes violetas e margaridas não almejam ser rosas. Contentam-se, como as almas pequenas, em viver "aos pés do Senhor", no cumprimento de sua vontade: "Na realidade, é próprio do amor rebaixar-se". Teresinha nunca quis ser, nos jardins do Senhor, uma flor altaneira. Preferiu ser uma florzinha rebaixada, que até uma criança pode colher e passos desavisados podem pisar..."

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Aos teus pés, Senhor...
A tantos lugares atrativos,
é onde prefiro estar...
Olho para mim e vejo que com imenso amor tens me tratado desde a minha infância...
Como Teresinha, devo amar-te não porque perdoaste-me muito, mas porque perdoaste-me tudo...
Me poupaste de vários erros, mas ainda assim escolhi muitos com a minha liberdade, e nem por isso deixaste o teu amor por mim...
Neste momento eu desejo recomeçar...
Recomeçar no reconhecimento de que devo diminuir para que o Senhor cresça em mim...
Recomeçar na minha não busca por recompensas e elogios...
Recomeçar no oferecimento da minha outra face...
Recomeçar a fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias...
"Eu te suplico, ó meu Deus, enviar-me uma humilhação cada vez que eu tentar me elevar acima dos outros"...
Eu me disponho a ser vítima do teu amor para passar minha vida amando o próximo...
Não quero fugir da minha missão de lutar pela unidade do cristãos...
Acho que descobri minha função no teu corpo místico:
Ser um minúsculo leucócito de amor que ajuda na cura e harmonização de todos os outros membros...
Aceito minha condição humana e confio que, apesar das fraquezas e limitações do corpo, a tua graça há de me levar até o céu...
Eu te amo, meu Deus!

01 dezembro, 2006

Mais um pouco de mim...

Hoje vi um garoto chorar...
Um garoto especial que tem 12 anos e está na 2ª série...
Ele dá bastante trabalho para os professores, pois tem muita dificuldade de se concentrar nas atividades da escola...
Já chamei muito a atenção dele na sala.
Percebi, longo no início da aula, que ele não estava tão bem como nos outros dias.
Quando já estava indo embora o vi com a cabeça baixa e fui perguntar o que estava acontecendo, mas não quis me dizer nada.
Eu descia as escadas para sair da escola e notei que o garoto estava do meu lado.
Abracei-o, despedindo, e perguntei novamente o que estava acontecendo...
Ele começou a chorar e me disse, com palavras emboladas, que um amigo dele tinha ido embora...
Não me convenceu esse argumento, pois a tristeza no olhar dele era grande demais.
Por mais que um amigo nos deixe, não é comum ficarmos numa tristeza tão aguda como percebi naquele garoto.
Abracei-o mais forte e chorei...
Não adiantava dar conselhos, pois senti que a história do amigo ter ido embora era uma metáfora pra dizer o quanto queria ser mais amado pelas pessoas...
Chorei junto e disse que ele era muito amado!
Isso mexeu muito comigo...
Ainda estou meio abalado, e nem sei ao certo qual o motivo...
Talvez seja porque me deparei com uma tristeza tão encarnada naquele garoto e me lembrei dos tempos que eu vivia sem esperança...
Como doía...
Hoje a dor tem sentido...
Hoje a falta de amor é, de certa forma, compreendida...
Hoje a minha esperança é Viva...
Como eu quis passar, por osmose, toda essa experiência para aquele garoto!
Mas eu não posso, só Deus pode...
Me cabe a paciência num amor sincero e diário...

Me ajuda Senhor!

29 novembro, 2006

A começar em mim...

Há um tempo atrás li num cartaz da ABU:
“Muitos querem mudar o mundo, mas poucos querem mudar a si mesmos”.
Minha reflexão de hoje caminhará mais ou menos no sentido dessa frase.
Digo mais ou menos porque quero direciona-la especialmente aos cristãos e a formularia da seguinte maneira:
“Muitos cristãos querem revolucionar o mundo, mas esquecem que a revolução proposta por Jesus está no amor que deve ser vivenciado, por cada um, inteira e individualmente”.
A revolução começa dentro de nós mesmos...
Cada vez que me aprofundo no meu auto-conhecimento mais me conscientizo das limitações humanas e me torno “menos capaz” de cobrar alguma coisa dos outros.
Estando mais ciente dos meus limites é mais fácil entender os limites do outro.
Quanto mais critico a mim mesmo, menos critico o outro.
Tenho andando meio triste por ver cristãos caindo no mesmo pecado que tentam denunciar. (me incluo nesses cristãos)
Vejo cristãos querendo combater o julgamento julgando...
Querendo combater a indiferença com mais indiferença...
A falta de amor deixando de amar...
Tenho entendido que para toda situação errada na humanidade cabe uma pergunta que se dirige a mim mesmo:
“O que eu posso fazer pra melhorar essa situação?”.
Criticar, apontar defeitos, dizer o que deveria ser feito é extremamente fácil em comparação com o reconhecimento de que sou, de certa forma, também culpado pelos problemas da humanidade.
Jesus vivia apontando defeitos, mas tinha plena convicção de viver plenamente o amor.
Consciente de que estou dando o meu tudo, estarei apto a apontar o defeito do outro. E não só apontar o defeito, mas apóia-lo para que faça o que precisa fazer.
Quando eu vejo alguém agindo de forma que considero imprópria devo me vigiar para que a exclamação “ele está errado!” não determine as minhas ações.
Penso que essa exclamação deve ser substituída pela interrogação “o que posso fazer para que ele reveja sua atitude?” se é que esteja realmente errada...
Tantas vezes os erros acontecem por faltarem bons exemplos de acertos na nossa sociedade.
Ser cristão não é ser exemplo vivo de Cristo?
Jesus foi exemplo de que?
Jesus ensina errar ou acertar?
Jesus não me ensina a atacar as estruturas, mas me ensina, antes de qualquer coisa, a amar de verdade!
Não é fácil ver alguém agindo de forma tão contrastante com o evangelho e me lembrar que o que devo condenar é a atitude desse alguém e não ele mesmo.
Talvez se antes de eu criticá-lo, tivesse a preocupação de perceber se eu o amo, o mundo seria melhor...
A crítica sem amor, crítica pela crítica, é até pior do que a falta dela...
O fato é que quase sempre existe uma crítica que precisa ser feita a mim mesmo antes de eu procurar o erro do próximo.
E muitas vezes eu vejo que quando me esforço para revolucionar as minhas próprias atitudes nem chego a falar do outro, pois o problema que nos envolve acaba sendo solucionado numa velocidade surpreendente.
Porque qualquer problema da humanidade parece ser maior do que é na verdade quando eu não me dou conta da parte que me cabe na solução dele.
Confesso que para esse texto realmente fazer sentido ele não poderia estar nesse blog, pois quem o escreve não vive nem a metade contrária daquilo que está criticando nos outros cristãos.
Mas desejo, com essa exposição, chamar uma responsabilidade pra minha pessoa e para a sua.
Preciso que você que lê este texto me ajude a viver, vivendo comigo, o título lá de cima:
“A começar em mim...”...

28 novembro, 2006

O que espero de um amigo...

Começo esse texto entendendo que para meus anseios de amizade serem atendidos eu preciso, antes de qualquer outro, seguir os meus próprios conselhos e ser o melhor amigo que puder...

* Espero de um amigo um “Oi, tudo bem?” verdadeiro...

Oi, tudo bem?
Esse é o cumprimento mais comum que existe hoje em dia, no entanto poucas são as pessoas que notam que essa frase é uma interrogação e precisa de uma resposta.
Digo por mim mesmo, quantas vezes eu digo “Oi, tudo bem?” mas pensando que estou dizendo outra coisa do tipo: “Oi, estou com muita pressa!”.
Eu espero que um amigo diga “Oi, tudo bem?” e pelo menos espere que eu diga “Sim, tudo bem!”

* Espero de um amigo um “Oi, tudo bem?” no olhar...

Acho que esperar pela resposta do “Oi, tudo bem?” ainda é pouco para um amigo.
Penso que a linguagem do amor está além do português. Por isso eu posso continuar entendendo “Oi, estou com muita pressa!” mesmo se meu amigo esperar por uma resposta para o seu “Oi, tudo bem?”, mas não demonstrar com seu olhar um interesse por minha pessoa.
Eu tenho muita dificuldade de mostrar quem eu sou quando não SINTO que o outro se interessa realmente por minha vida.
E o verbo é esse mesmo: SENTIR...
Amor a gente sente...
Eu posso dizer mil vezes “Eu te amo!” para uma pessoa, mas se minhas palavras não atingirem o coração dela, serão palavras vazias...
Eu, sinceramente, espero que o “Oi, tudo bem?” do meu amigo atinja meu coração.

* Espero de um amigo um “Oi, tudo bem?” sem cobranças...

As vezes eu entendo o “Oi, tudo bem?” do meu amigo como “De novo vc com essa cara?” e isso é muito ruim!
Já me travo e não consigo falar de verdade o que estou sentido...
Ou então quando o amigo chega cheio de conselhos e nem sequer pergunta o que realmente está acontecendo comigo.
Já me cobro muito mais do que qualquer outra pessoa.
Entendo que existe um jeito de cobrar da pessoa que se ama, mas penso que é extremamente difícil viver bem esse jeito.
Se ele não é acompanhado de lembranças do amigo realmente se importando comigo, a cobrança vira uma cobrança por cobrança e me deixa sem a menor vontade de dizer que eu sou.
.
Pode ser que no meio dessas palavras estejam misturadas minhas carências afetivas e um romantismo exagerado, mas espero poder contribuir mostrando um pouco da minha verdade.
Que Deus nos abençoe e nos instrua no caminho para sermos bons amigos
!

26 novembro, 2006

Silêncio inerente...

Não fuja, não corra
Respira
Sofre o silêncio inerente a ti
Ouve teus gritos interiores
Na alma inquieta
Descobre mais tu mesmo
Vai além do barulho
Descobre Deus
Descobre a vida
Descobre a verdade que não se dá em palavras
Mas sim no fundo da própria essência
Quieta, calma, sem som e sem voz
Ela somente
Pura e desprendida
Conhecedora do céu e das melhores escolhas...

25 novembro, 2006

Corpo estranho

Me sinto e sinto um corpo estranho
Uma sensação de não ter nada pra fazer
Diante de um milhão de coisas que precisam ser feitas

Parece que alguém tocou naquele ponto
Que estava indissolvido dentro de mim
E que enquanto derrete
Me faz um ser expectador de eu mesmo

Em quem será que me transformarei
Após ser temperado por uma parte de mim
Escondida nos confins do meu profundo?

Serei mais eu
Eu sei
Mas incomoda esse tempo de espera
Tempo de incerteza,
Tempo de escolhas que eu não queria fazer
Fazer o que?

Não correr,
Respirar, amar minha condição pobre
Respeitar o processo longo de chegar ao que sou
Viver essa pequena via de se chegar até Deus...

23 novembro, 2006

Eu quero ser santo!

Não dá pra não reparar nas atitudes dos cristãos...
Como pouco se diferem das atitudes mais presentes no mundo:
Desconfiança, julgamento, discussões para impor uma opinião, pagamento com mesma moeda, cobrança exagerada do outro, amor que espera recompensa, dentre outras...
Ser santo não implica ter atitudes santas?
Ter atitudes santas não implica ter atitudes separadas ou diferentes das do mundo?
Sei bem que não é fácil!
Basta olhar pra mim e perceber tanto mal que faço, mesmo não querendo...
Mas uma coisa eu posso afirmar: tenho a santidade como meu projeto de vida!
Quantos cristãos têm a santidade como projeto de vida?!
Pra mim, desejar ser santo é refletir a todo instante sobre as minhas ações e sofrer me arrependendo de cada mal que faço...
Eu disse de cada mal que faço...
Sinto que quando olho pra mim e analiso o que fiz durante o dia, por mais que eu esteja ciente de que não serei forte o suficiente pra mudar radicalmente as minhas atitudes, o meu coração se abre para a graça...
Reconhecer minhas impossibilidades abre minha vida para a graça...
Reconhecer-me criatura, incapaz de fazer qualquer coisa boa, me abre para a graça...
Mas esse reconhecimento tem um custo...
Custa perder tempo na oração e se deparar com “o monstro” que eu sou...
Custa aceitar que a maioria das minhas escolhas foram más por terem sido feitas para suprir um desejo carnal...
Custa entender que por ser escolhido de Deus, não sou o melhor, pelo contrário...
Deus escolhe os fracos pra confundir os fortes...
Custa pensar em Deus todo tempo do meu dia...
Custa ainda morder a língua quando tiver vontade de maldizer alguém...
Custa dar a outra face quando alguém me der uma bofetada...
Custa ficar no prejuízo financeiro e outros mais...
Custam lágrimas, custa choro sincero...
Custa negar a mim mesmo e perder minha vida...
Quantos querem “pagar” esse preço?!
Quantos querem passar por cima das imposições sociais, mas não com uma vontade satisfação própria, e sim olhando as necessidades do próximo?!
Quantos querem ignorar suas vontades de serem aceitos pelos homens e serem eles mesmos?!
Quantos?!
Com muita dor no coração eu digo: Eu quero!
Posso ver a ponta da cruz vindo em minha direção...
Posso sentir certa dor na minha testa, parece ser uma coroa de espinhos...
Posso tocar uns cravos que estão prestes a entrar em minhas mãos e pés...
Vejo chicotes...
Mas posso ver também uma luz diferente...
Diferente de tudo que eu já vi antes, parece que vem acompanhada de uma paz que não se encontra em lugar nenhum do mundo...
Parece que traz consigo uma vida plena, abundante, verdadeira...
Nessa vida não existe prisão...
Tudo é livre, absolutamente livre...
Será que isso é o céu?

Continuo com muita dor no coração, mas reafirmo: Eu quero ser santo!

20 novembro, 2006

Eu vivo...

Ah! Meu amor
Eu não entendo o nosso amor
Vivo e somente vivo
E encontro sentido tão sentido
Numa experiência única
De amar e ser amado

Olhar que acolhe
Sorriso que desperta minha essência
Mãos consoladoras
Perdoadoras de mim distraído
Ainda meio longe do que posso te dar

Abraços que descansam e me levam pra Deus
Palavras que atingem meu peito
Coração dilacerado pela sinceridade
Cortante da tua voz

Como é bom me abandonar ao teu lado
E pelas mãos da Mãe
ser cuidado através de Ti
Num carinho próprio de mulher
Tão menina e tão madura...

17 novembro, 2006

A loucura da diferença...

Hoje quero confessar uma dificuldade que tenho...
É extremamente difícil incentivar as pessoas a serem aquilo que elas devem ser em detrimento da vontade que tenho que elas sejam muito parecidas comigo.
Quando o outro é ele mesmo eu perco uma certa segurança sobre os seus atos. Não posso prevê-los e nem controla-los,
pois são distintos do que eu faria.
Me torno então um ser vulnerável a sucessivas surpresas,
e isso me amedronta...
Não é fácil lidar com a diferença do amigo e aceitar que tantas vezes ele está certo e eu errado nas minhas opiniões.
Não é fácil enfrentar situações de conflito porque dói...
Ser atingido pela diferença do outro dói!
Não ser correspondido na minha expectativa a cerca do outro dói!
Não ser amado do jeito que eu desejo dói...
A minha tendência é de me tornar um ser indiferente, superficial...
Tendo a viver os meus relacionamentos naquele jeito que me agrada ou que estou acostumado.
Não me arrisco! Não quero sofrer...
Mas aí me lembro de uma palavra de Jesus:
“Quem perder a sua vida a encontrará!”.
Respiro fundo e vou...
Com medo, dor, calafrios mas vou...
E nessas vezes que fui não deixei de sofrer,
mas o que ganhei não se explica!
Ganhei a diferença do outro, os problemas, as misérias, mas ganhei os talentos também...
Senti a sensação de que algo me completava...
E senti a sensação de eu completava algo...
E isso é simplesmente indizível!
Liberdade, alegria, choro, paz...
tudo se mistura de uma forma que sinto, verdadeiramente, a vida.
Penso que essa é a vida em abundância que Jesus quer me dá.
Um vida completada pelos talentos alheios...
E a cada novo talento que chega, a vida não é acrescida somente daquela parte que cabe a esse determinado talento...
Mas ele mistura tudo dentro de mim e me transforma de uma forma totalmente nova...
É uma outra vida que se processa no que sou, acrescenta e poda-me.
Passo a ser um novo ser ou passo a ser mais eu mesmo!
Talvez isso tudo seja uma loucura, mas nada no mundo é tão bom como viver nessa loucura.
Agora eu cheguei na parte que queria confessar.
Apesar de toda felicidade que alcanço quando me deixo atingir pela vida do outro, eu ainda me fecho...
Parece que esqueço de tudo...
Que desaprendo, num segundo, a lição da vida...
Insisto em encontrar no prazer da carne o sentido que está na quebra da própria carne...
O que fazer meu Deus?
Neste milésimo de tempo que a tua lucidez perpassa a minha alma eu te dou liberdade pra não me deixar esquecer que é perdendo a minha vida que a ganho...
Se eu não for atingido por Ti, através dos meus relacionamentos, não serei eu mesmo, não serei completo, não serei pleno...
Perderei a chance de viver o céu na Terra...
Que a tua graça, que ultrapassa minhas limitações, não me deixe esquecer disso tudo...

14 novembro, 2006

Vento...

O amor chegou
viveu
morreu
Se enternizou

Do sempre
para o sempre
Me alcançou
feriu

Quase sentado
meio calado
dormiu
em paz
.
*Dedico esse poema ao amigo Rafael Belúzio

08 novembro, 2006

Ao amigo Lelê...

Em meio a choro e dor
Eu sinto Paz
Paradoxo de um amor que aconteceu
E que vive para a eternidade...

06 novembro, 2006

No caminho da Unidade...

Orando e pensando bem...
Cristão que é Cristão deseja a unidade!
Sermos um é uma condição que o próprio Cristo nos indicou para que o mundo creia que o Pai o enviou... (João 17)
E ser um, definitivamente é muito diferente de ser igual!
Cada um é importante na sua individualidade e diferença.
Deus usa das particularidades humanas para falar de Si mesmo, que é a própria verdade.
A plenitude divina está toda em cada homem e, ao mesmo tempo, na unidade deles.
Ser cristão é ser feliz por experimentar a vida abundante que Jesus conquistou na cruz.
E quem sente o gosto da Salvação a deseja também para todos!
Não posso esquecer que o evangelho só será anunciado plenamente a todos a partir da unidade dos cristãos.
Não adianta lutar contra isso!
Eu, católico, preciso da parte que cada presbiteriano tem no corpo de Cristo!
E os evangélicos também precisam dos dons que Deus me deu...
Eu continuo sonhando, mais do que nunca, com católicos e evangélicos vivendo como irmãos e surpreendendo o mundo!
O Espírito Santo já está trabalhando pra nos unir...
Estou sentido...
A Ele a Glória!

Alguma diferença...

Atravesso a rua como sempre
Mas o pensamento está mudado
Vejo cores e transparências
Numa calçada suja
Folhas secas em plantas verdes
Não vejo um medigo
Vejo um homem distante do sentido...

30 outubro, 2006

Lá vai o amor...

Lá vai o amor, feito criança
Tentando morrer para o bem do outro
Se procurando e não se vendo
Perdido numa dimensão alegre
De sensações negadas e tão livres

Lá vai o amor, feito esperança
Alcançando o lugar do pobre
Gastando até o que não tem
Sendo perfeito à própria vida
Que se perde e ganha sem sentir...

Lá vai o amor, desenfreado na doação
Na não correspondência
Na vontade e na entrega ao divino
Chorando sua pequenez
E ao mesmo tempo amando-a

Lá vai o amor
Indo e vindo
Voltando maior
Forte, puro e Luz
Me atingindo e abastecendo novamente...

27 outubro, 2006

Pensando bem...

Hoje eu não tô pra leitura
Tô pra um bate papo
Daqueles informais
Que te deixam sem entender a vida
Que te levam a mergulhar num magma de ti mesmo
Que revelam cansaço e descanso de uma forma tão sutil
Que quase não se fala
E quase não se cala diante da escuridão profunda
Refletida no olhar minimalista
E sereno de sonhos cheios de mesmices próprias
Mas no coração, grita sem se ouvir
A voz do alto, da essência
Eu escuto nesse tipo de papo?
Num papo que se diz furado
E tão mais tampado e claro que algumas leituras
Pensando bem
Hoje eu preciso ler um pouco
Hoje eu preciso orar sem fim...

20 outubro, 2006

Deus é insubstituível...

Hoje estou percebendo que nada pode substituir meu relacionamento com Deus...
Posso ser a pessoa mais sensata e responsável na difusão do evangelho, mas isso não é o que me faz ser realmente um imitador de Cristo.
Jesus, apesar de todos os seus afazeres, não abria mão da sua oração.
Sempre arrumava um jeito de ficar a sós com Deus...
Oro sim através das minhas obras, mas desde que elas não sejam desculpa para que eu deixe de “enfrentar” a mim mesmo num diálogo profundo com Deus.
E diálogo requer tempo a sós...

10 outubro, 2006

Doses de remédio

As poesias são como doses de remédio
Às vezes curam a dor
E até conversam com a ferida
Mas tantas outras apenas aliviam
Uma vontade diferente
Que não se explica e não se entende
E continuam na esperança
De serem encontradas
Pelo Médico perfeito...

09 outubro, 2006

Certeza tão incerta...

Deus é a certeza que me causa incerteza...
Tudo o que tinha por mais seguro nesta terra parece se dissolver com o poder do amor.
Ele transforma-me por dentro ao mesmo tempo que transforma o que está em minha volta.
Sou impelido a enxergar de maneira tão nova que não compreendo como tudo foi recriado.
Ah! O amor tem o poder de restaurar a criação.
Me dá um entendimento totalmente inusitado e que jamais poderia tê-lo na minha forma tão pequena de ver o mundo.
Quanta surpresa!
Quanta certeza e incerteza!

07 outubro, 2006

Braços da compaixão...

Eu realmente sou um ser que sente e não consegue se expressar...
Erro quando sinto a dor do outro e de lá não consigo sair...
Caído é difícil ajudar alguém...
Sentir não é tudo que preciso...
Preciso sentir amorosamente...
Numa disposição interior de firmeza...
Ainda que a compaixão tenha braços que me chamam a deitar, ela também tem braços de vida, de ação, de morte de mim mesmo numa procura do bem efetivo do outro e num olhar voltado para o Senhor de todas as coisas, soberano, Deus de milagres...
Os braços de deitar da compaixão significam humilhar-me, chegar ao chão de minha alma e no profundo do outro, mas eu os confundo com minha tendência de cair e me esconder...
Muitas vezes eu me escondo na dor do outro...
Eu perco a oportunidade de fazer a tão sonhada caridade...
Que vive equilibrada entre os braços da compaixão...

05 outubro, 2006

Por detrás da “realidade”...

E o que dizer sobre o que não vejo?
Além dos seus complexos desejos
A dor, o medo
Crosta formada por ninguém
Ninguém que mata
Que se vende
Ninguém que se alimenta
E se veste de sociedade
Que costumam chamar realidade
Mas de verdade
É apenas a vontade de ser

Ser fantástico, impensável
Intragável ou diferente
Fruto da mente
Tão demente
Incapaz de imaginar o amor
Que vive de pobreza interior
Fraqueza de Nietszche
Aguda bondade
Perdida nas amargas ilusões
Das palhas secas do que é

Cheiro bom vencido
Pelo pecado corrido
Veneno de vida alheia
Benefícios desviados
Noites mal dormidas
Obesa consciência e vassoura que varre
Ajuntando um lixo
Que pode ser eliminado
Num só sopro, fala, olhar simples
Tão grande, amante, luz que se nega
Distinto à sua roupa:
Deus como tal.

03 outubro, 2006

Eu busco o amor...

Eu busco o amor
E nesse caminho me perco
Me envelheço num cansaço desejado
Numa complexidade tão intensa
Que age além de mim

E exala o cheiro de simples
Essencial de criatura
Talvez o próprio amor
Ou uma porção tão pequena
Do que eu imaginava que fosse

Pra não me assustar
E me chamar a ser mais
Muito mais longe do que meus sentidos
Mais até do que penso que seja a morte...

19 setembro, 2006

Puro?

Hoje...
Talvez tenha cometido um pecado aos olhos do mundo
Ou de alguns cristãos ignorantes...
Hoje...
Eu sinto que amei
Acho que nunca fui tão puro
Em meio a minha própria perversão
Que liberdade estranha!
Que liberdade boa é uma amizade redonda...

17 setembro, 2006

Bem semente...

Hoje me conheço mais
Um ser pouco ouvinte
Muito aconselhador
E que tantas vezes se perde no meio de paradigmas

Preciso me libertar
Daquilo que mora no meu jeito
E diz que sou portador da sabedoria
Que mentira!

No fundo o meu desejo é o de ontem
Tratar o outro como único
Sinto o que ainda sinto
A diferença tem me cansando tanto!

O que é o que penso?
Quase nada perdido no meio de tudo
Tão pequeno que não respira
Sem o crescimento de quem me escuta

Não nasci pra solidão
Gosto de música compartilhada
E a companhia num papo bem feito
De sonho em fazer um bem perfeito

O bem de hoje está meio verde
Sem morte, com pouca dor
Um bem criança, tão semente
Que justifica suas insignificantes ações

Almejo a simplicidade
Que ama e aceita o outro
Que se atinge com a sabedoria
Alimentada pela humilhação...

15 setembro, 2006

Verdade livre...

Liberdade que me foge
A cada negação de mim mesmo
Se me alieno dos meus segredos
Tento ser que me vejam

Estar próximo da verdade
É viver do meu sentido primeiro
Primado de argumentos
Que validam minhas causas

Liberdade pouca
Verdade do mundo
Liberdade muita
Verdade de mim, verdade de Deus...

14 setembro, 2006

Flor é dor...

Esse amor não se entende,
Paradoxo, louco, ouro e médico
Livra, cura, arde no peito
Chora, sente e não volta atrás

Esse amor não se acaba
Pouco é muito, nada é tudo
Chuva é flor e flor é dor
Pano forte e um norte

Esse amor é profundo
Se faz no abismo
Na alma do preto e do velho
Nas folhas e nos ventos

Esse amor é o amor
Cor, pranto, luta e madeira
Contramão e contra rosto
Contra o gosto de quem se fecha

11 setembro, 2006

Abraçar crianças...

Hoje a vontade de amor livre está maior
Amor que entra e só
Amor que não liga para o que os outros ligam
Amor que ama
Amor que vive
Tão livremente que até assusta
Que se comporta como um estranho
Tão diferente do que sou
Ou diferente do que a sociedade me faz
O amor não é normal
Mas o amor não é banal
O amor é a essência que nós perdemos
E procuramos em tantas outras coisas...

Ah! Hoje o meu peito está cheio
Até transborda por amar
Amar com vontade e até sem vontade
Mas amar, amar e amar...
Pra se encontrar, pra ser sentido...
Pra ter sentido e dar sentido
Àqueles que sofrem ou morrem por outras coisas
Que não seja a cruz
De onde jorra o amor e a graça pra vivê-lo...

Estou chorando, por não saber o que fazer.
Não dá pra amar parado!
Tem que amar agindo, andando, cantando
Pelo menos olhando
E abraçar as crianças...
Essa é a sensação maior desse meu amor...
Abraçar crianças...
Por isso o amor de Deus por mim é pleno
É o Pai que abraça seu filho tão pequeno...

10 setembro, 2006

Hoje é todo dia...

O meu íntimo anda numa canção
Desconhecida, doce e pura
Num tom tão reunido e experimentado
De sons apaixonados
Em passo azul que acalma e cura

A sensação é de um ser fragmentado
Em pratos rasos e pouco claros
Um olhar cansado sem criatividade
Uma vontade de nada querendo tudo

Mas esse não sou eu
É uma inversão de eu
Partido, ferido, calado e mudo
Forte, angustiado e tão desiludido

Quero ser, mas não sei
Quero estar, mas tenho carência
Quero amar, mas eu preciso
Os sentidos hoje me fogem

As palavras são descontentes
As letras sem sabor
Mas as cores continuam
Colorem os panos de fundo
Riscam meu mundo

Escorrego num brinquedo
Que eu mesmo construí
Brincar de amar não dá
Amor é sério
Estou sentindo

Amor quer o que não quero
Amor, no fundo, quer o que já vi
Um dia eu sonhei com a brisa
No outro, com o lugar

Por fim abro os olhos pra vida
Me resta a vida
Me cabe o que é claro, verdade e paz
Eu sou pra cruz
E ser feliz...

09 setembro, 2006

Sobre a escrita e o canto...


Quando não sei, eu escrevo.
Ainda meio sem jeito
Eu acerto no peito
Daquilo que quer me abafar



Quando eu sei, eu canto.
Ainda meio sem jeito
Eu acerto no peito
Do que quer me alegrar

.
Quando eu não sei,
eu também canto.
Ainda meio sem jeito
Eu acerto no peito
Do verdadeiro peito
E, às vezes, no meu...

07 setembro, 2006

Um pouco sobre a vida, meus sonhos e o céu...

O que é a vida?
Hoje, pra mim, ela se resume na realização dos meus sonhos mais profundos...
O que são os meus sonhos?
Tantas vezes me perdi sonhando sonhos alheios...
Sonhos da sociedade que não se realizavam plenamente em minha vida...
Eles precisavam primeiro passar pelo consentimento da minha essência, formada a imagem e semelhança de Deus...
Minha essência sonha céu...
Céu é ver as pessoas felizes, já disse um santo...
Ainda preciso fazer uma distinção entre ver e enxergar...
Céu, pra mim, é enxergar as pessoas felizes...
Ainda vejo com meus olhos, às vezes enxergo com os olhos de Deus...
E quando isso acontece, como vivo livre!
Tantas vezes eu vejo, mas não enxergo...
Para enxergar preciso de um relacionamento com o que vejo...
Para enxergar preciso sentir o que vejo...
O Cristão é transformado e seu olhar passa a ser o olhar de Deus...
Os olhos de Deus constantemente me enxergam como realmente sou...
Os olhos de Deus procuram minha felicidade e se não a encontram, apontam-na...
E eu?!
Ah, meu sonho mais profundo é ter olhos de Deus...
Procurar a felicidade do outro e se eu a ver, querer enxergar...
E se não enxergar, apontar...
A felicidade passageira, ditada pelas coisas passageiras, eu verdadeiramente não enxergo...
Quando enxergo, sinto o que é profundo do outro e me alegro com isso...
Por mais que a felicidade dele seja desprezo para meus sonhos e minhas felicidades passageiras...
E a vida?!
A vida é isso...
É segundo, é milésimo, é momento...
É alegria na alegria do outro, é uma dependência independente do outro...
É enxergar o outro...
Enxergar a felicidade do outro...
Mas isso não é o céu?!
Sim, parece-me que a vida verdadeira é o céu...
Se confundem...
Se purificam na minha experiência de sonhar com minha essência...
Sonhar os sonhos que Deus já escolheu pra mim...
Na minha liberdade, no meu livre arbítrio...
Que se intensificam à medida que me prendo ao Amor...

Medo bom...

Pra que o medo de respirar?
Pra que o medo de se calar?
Pra que o medo de se tentar?
As tentativas são esquecidas
à medida que os medos são adestrados...

05 setembro, 2006

Nada...

Se não sei o que fazer
Eu corro
Fujo do que sou
Quando na verdade
Preciso apenas respirar...

sol?

Rugas de tão velhas
Cores de tão vermelhas
Sois de tão quentes
Assim sou eu no inverno da vida
Uma pouca coisa presa em si mesma...

04 setembro, 2006

Caindo na virtual...

É como um ser humano com dor
De dente, corrente, na alma e no ser
Sofrimento antecipado de uma vida melhor
De longe é tão estranha
Que perpassa a expectativa do amanhã...

03 setembro, 2006

Problema X Solução

Me parece que
Quando não sou parte da solução,
Sou parte do problema
Impossibilitado de neutralidade
Na minha própria vida e na sua...

01 setembro, 2006

Experiência...

Pensando, eu pensei ter chegado...
Quando falei, esqueci o que pensava...
Mas quando amei,
Ultrapassei meu pensamento
E fiquei mais consciente do meu caminho...

Perder e ganhar...

A vida está muito além do que penso ser a perfeição...
Ela não é a vitória que sei definir...
O sentido da vida está muito mais próximo de mim do que imagino...
Parece que me canso muito no caminho que me leva a ele porque luto com armas erradas...
Desgasto-me tentando convencer a mim mesmo de que posso alguma coisa...
A busca por sentido é sim uma luta...
Mas uma luta contra as minhas próprias vontades de “não sentido” que vivem lado a lado com meu desejo de ser o que nasci pra ser:
Um ser que perde pra ganhar...

24 agosto, 2006

Santidade fraterna...

O choro de um amigo tem sido um dos meios que mais me levam à intimidade com Deus.
Presenciar um reconhecimento da fraqueza humana e sua impossibilidade diante de determinadas situações me conduzem para o chão...
Me leva a também reconhecer a minha miséria...
Me leva a ser consciente da minha dependência de Deus...
Me leva a sentir uma dor verdadeira de amor...
Um desejo de fazer alguma coisa por aquele coração contrito...
Um entendimento do sentimento de Deus...
Um experimentar do todo de Deus...
Uma comunhão com o outro...
Uma comunhão com Deus...
Não desejo que o amigo sempre chore para que e me aproxime de Deus.

Não sou capaz de escolher os meios de me aproximar de Deus...
Mas é que hoje vejo mais sentido na dor do outro na minha vida...
Hoje, a dor do outro não ensina somente a ele...
O choro de um amigo chora comigo o sofrimento esperançoso da santidade fraterna...

18 agosto, 2006

Meu desejo de ser Deus...

O meu ser deseja
Algumas coisas que eu não desejaria
O meu ser deseja ser Deus

Deseja poder, presença e saber
Pensa que isso é viver
Mas quem é Deus?

Deus é amor
Caminho, verdade e vida
Deus morreu na cruz e morre todo dia

Deus é amor, sofrimento e pesar
E agora meu não-desejo é que deseja
Deseja não ser mais Deus

Mas o verdadeiro desejo continua
A principio atraído pelo poder, presença e saber
E agora certo da liberdade que experimenta na busca

Poder, presença e saber é muito pouco ou conseqüência
Ser Deus é ser amor
Ser Deus é ser dor e compaixão ilimitada

Ser Deus é sempre dar
Ser Deus é desejar ser amado amando
Ser Deus é não cobrar nem esperar

Ah! No fundo quero ser Deus
Mas ser Deus agora me assusta
Parece que esse desejo está sendo purificado...

07 agosto, 2006

A acolhida gera vida...

Acolhei-vos, portanto, uns aos outros,
como também Cristo vos acolheu,
para a glória de Deus.”
(Rm 15, 7)

Porque Paulo frisa tanto a acolhida como uma conduta cristã?

Jesus veio para que todos tenham vida. E a tenham em abundância...
Quantas são as pessoas neste mundo que estão vivendo de verdade?!
Quantas são as pessoas levadas pelas circunstâncias da vida e que se comportam como platéia no teatro da sua existência?!
Muitas...
Muitos andam pelo campus UFV sem nenhum sentido...
Outros até tem um sentido, como aproveitar a vida, e se perdem no meio de tantas especulações do que seja realmente bom...
Outros têm o seu sentido nos estudos, e se decepcionam tanto quando as coisas não saem do jeito que esperam e quando se formarem, vão precisar de encontrar outro sentido na vida.
Para um cristão, Jesus é o sentido maior da vida, pois Ele é a própria vida...
Ele é a salvação da morte.
Eu creio em Jesus porque posso sentir que a cada dia Ele me dá mais sentido, Ele me valoriza e me anima a viver. Me faz feliz de verdade. Me faz livre...
Jesus me liberta da prisão da falta de sentido...
Mas quando é que encontramos um sentido na nossa vida?!
Quando somos acolhidos e amados do jeito que somos...
Quando somos lembrados do valor que temos independentemente dos nossos erros...
Não é isso que Jesus faz constantemente conosco?
Não é assim que Ele nos traz vida, e vida em abundância?
E se somos cristãos, somos chamados a imitar essa ação tão livre e divina de Jesus...
É pela acolhida que a essência do outro, sufocada por tantas incompreensões, renasce e vive...
Posso olhar pra mim e lembrar que as vezes que fui mais motivado a viver foi quando senti uma compreensão da minha pessoa pelo outro.
Pude sentir que eu existia por sua acolhida.
Pude sentir que minha vida era importante, que alguém me notava, que dentro de mim tinha vida.
É isso! Não sou capaz por mim mesmo de me convencer que dentro de mim há vida.
Sinto que o próprio Deus quis assim:
A confirmação da vida dentro de mim é feita pelo outro e confirmação da vida do outro dentro dele é feita por mim...
Por isso a acolhida gera vida.
A vida que está no outro precisa ser reconhecida pela minha...
Acolhendo-o, “posso” lembra-lo de que é uma pessoa importante.
“Faço”-o entender que apesar de todos os erros, mora dentro dele uma cor totalmente original e indispensável para o colorido que o mundo precisa ter.
Jesus sonhava com um colorido que muitas vezes nem imaginamos...
Por isso não dispensou ninguém! TODOS foram e são acolhidos por Ele.
TODOS tem uma importância única para Deus!
E nós, cristãos que por Deus fomos acolhidos, devemos lembrar isso aos que estão mortos ou esquecidos das suas vidas...
Ou seja, levar, pela nossa acolhida, a acolhida do próprio Deus que gera a plena vida...

05 agosto, 2006

Eu irei...

Eu irei...
E experimentarei o que sempre prego...
E me abandonarei como sempre peço...
E viverei o amor como, quase sempre, o observo...

Eu irei...
Num dia eu sei,
Numa noite talvez...
Terei um encontro com outra parte,
Que se esconde de mim ou que não quero vê-la...

Eu irei...
Saber se realmente vivo o que penso...
Ou se penso pra fugir de algo mais penoso...
Será que criei minha cruz?

Eu irei...
Seguir de verdade Aquele que disse quem quiser...
Não tentarei ser maior do que Ele...
Procurando, eu mesmo, a razão do meu seguir...

Eu irei...
Me deixar ser encontrado...
Me deixar ser abraçado...
Me deixar voltar pra casa e dizer que pequei...

Eu irei...
Acreditar na misericórdia...
Acreditar no amor que tudo perdoa e tudo suporta...
Acreditar que nasci pra ser amado, amar e ser feliz
...

01 agosto, 2006

Meu Lugar...

Hoje todo lugar não é lugar...
Hoje estou sem lugar...
Hoje o meu lugar não existe além do que eu sinto...

Busco aqui, ali e não encontro...
Busco fora, busco perto, busco em cima e em baixo...
Ainda não busco dentro, só tem a vontade...

O meu quarto não é o mesmo...
A minha cama não é a minha...
O meu coração está cheio de novidades...

Novidades não pensadas...
Novidades que ainda não me atingiram de verdade...

Agora entendo um pouco mais...
Só encontro meu lugar quando me deixo atingir por ele...
O Lugar faz parte de mim...
E eu faço parte dele...

28 julho, 2006

Realidade pequenininha...

Por mais que eu não queira...
Existe outra realidade de mim...
Ela fala por mim e eu nem mesmo a conheço...
Ela fala de mim e eu nem sinto...
Ela sofre e eu sofro junto sem saber por quê...

Ó Realidade das realidades,
Quando saberei a minha verdade?
Ando tão longe e tão próximo de mim...

Por tua lonjura desejo eu mesmo...
E pela proximidade tenho consciência da distancia...
É uma angustia angustiante de quem pretende descansar eternamente...
Uma saudade do mistério que me forma...
A derrota da autoridade própria...

São perguntas de infinitas respostas...
Grossos modos finos de se olhar para o orvalho...
É um frio seco de numa doçura incomparável...
Ou uma doçura de um frio que crio dentro do peito...

Ó Realidade das realidades,
Eu não conheço...
Eu sinto o não sentir de uma vontade quase nua...
Crua, sem pré-conceitos e/ou estimativas...
A outra me pára quando quero andar...
Ou quando queres andar em mim?
Eu te evoco, eu te imploro!
Conhece-me inteiro...

Ultrapassa a minha pequenez!
Busca por Ti mesmo aqui no profundo!
Um profundo tão raso que se perde...
Um profundo pleno em ti e meio sem sentido nos meus olhos...

Daqui só posso esperar o dia em que virá...
Daqui só posso sentir aos poucos a transformação...
Daqui vou inconformar-me e me confortar...
Com as gotas de Ti...
As gostas cheias que me parecem vazias...
As gostas que preenchem com a sensação de tirar de mim...

Descontruir para construir...

Hoje, mais uma vez, fui surpreendido pela verdade...
A verdade sobre mim mesmo é quase sempre dolorosa.
Construo algumas paredes sobre o que eu julgo ser o meu alicerce.
Ledo engano...
Hoje, sou convidado a ser livre pela verdade.
Mas ser livre pela verdade é começar tudo de novo.
É desconstruir quase tudo que “sou”.
É me arriscar na busca de mim mesmo disposto a me deparar com alguém que nunca conheci.
Isso não é fácil!
Mas é simples...

26 julho, 2006

Não sei lidar com a intervenção...

Ontem estava de frente para o pecado...
Foi quando senti que alguma coisa não me deixava caminhar para o errado
Senti a mão de Deus no meu ombro
Senti Seu olhar cheio de lágrimas me falando sobre o amor
Senti Seu coração batendo forte a desejar minha renúncia àquele nada-prazer que me seduzia

Mas...
Dentro de mim surgiu um desprezo por Deus
Dentro de mim surgiu uma vontade de nunca ter orado “Senhor não me deixes cair em tentação!”
Dentro de mim surgiu um sentimento de quem é vigiado e não amado
Estava seduzido pelo mal e pelo mal que há em mim

E eu pequei...
Ainda assim eu pequei...

E o silêncio depois daquele ato me mutilou...

Ele disse que Deus me ouve toda vez que peço ajuda pra suportar a tentação.
Mas o que adianta se eu não quero ser ajudado na hora da tentação?
Descobri que não sei lidar com a intervenção de Deus...

Eu sei pedir quando o desejo de Deus é próximo do meu.
Quando experimento a amargura é até bom clamar por Deus
Mas quando estou diante de um “prazer” do inferno, eu prefiro esquece-Lo
Ou me lembrar que Ele, misericordioso, sabe que sou fraco...

Não!
Eu não sei lidar com a intervenção de Deus...
Eu, no fundo, acreditava que minha oração nunca seria ouvida
Eu, no fundo, acreditava que na hora do pecado eu estava sozinho
Eu, no fundo, acreditava que Deus se deixa levar pelos meus desejos
Eu, no fundo, acreditava em outro deus que não é O da intervenção

Intervenção diferente...
Intervenção que não impõe...
Intervenção que apenas ama...

Será que depois de mutilado pelo silêncio e pelas lágrimas incandescentes eu serei diferente?
Será que a consciência do Amor acompanhante fará com que algo mude dentro de mim?
Eu preciso acreditar que sim...
Pois só o próprio Deus sabe lidar com o meu não saber lidar com Sua intervenção
...

25 julho, 2006

Vaidade à flor da pele...

Talvez hoje tenha sido um dos dias em que mais reconheci minha incapacidade para o bem...
Talvez hoje tenha sido um dos dias em que mais fui tentado pela vaidade escondida no meu jeito...
A santidade é assim...
Quanto mais descubro a bondade de Deus, tanto mais descubro a maldade de mim.
Descubro o quão longe estou do amor perfeito, pois quase todas as caridades que faço não brotam do coração...
Aguardo ansiosamente o dia em que minha essência regerá minhas ações, e a caridade será plena. O amor será dado de graça...
Talvez a vaidade jamais me abandone, mas deve haver um modo de ficar imune aos seus ataques...

Ensina-me Deus, a ter um coração humilde como o de Jesus!
Coração livre, coração essencial...

22 julho, 2006

Hoje eu preciso...

Hoje eu preciso de mim mesmo numa oração
Tão sincera que chega a não dizer nada
Pensar no que foi e no que seria
Me arrepender sem emitir nenhum som
E de novo aprender com o erro.

Hoje eu preciso de ouvir a orquestra dos meus sentimentos
Afinada nos tons das minhas experiências
Em que a situação escondida
É o solo de violino do fim da ária

Hoje eu preciso de um amigo que brinca
Que conhece os meus erros e brinca
Me lembrando que a vida deve ser plena a todo instante
Não só quando eu consigo sentir o andar da carruagem

Hoje eu preciso de equilíbrio
Daquele que se consegue com dor
Daquele que o vento não pode trazer
Daquele que se conquista com derrotas do meu desejo...

14 julho, 2006

A santidade vem de Deus ou dos homens?

Tá certo que essa pergunta não deixa tão clara a resposta que deseja ter, mas entendi, ao ouvi-la do Paulo, um amigo, que a resposta esperada deveria ser dada em proporção.
Tipo: Santidade depende 49.99% dos homens e 50,01% de Deus. Ele queria saber matematicamente quanto o esforço humano somaria na sua busca pela santidade.
Confesso que quando fui questionado a minha resposta foi: “Que pergunta doida hein?”. A agora eu é que pergunto: “Porque doida?”. Não é esse um questionamento que todos tem?. E assim descobri que “eu” fazia essa pergunta há um bom tempo e que Deus já tinha uma resposta, mas eu não queria enxergá-la. Vamo lá!
A primeira coisa que pude perceber no meu coração, enquanto refletia sobre essa questão, é que sou extremamente tentado a responder que a santidade depende totalmente de Deus porque procuro uma justificativa para minha vontade de não fazer nada por ela.
Com esse incômodo ficou muito claro que a resposta não é 100% de Deus!
Mas quem é o homem? O que ele pode? O que ele consegue?
O Homem é pó! Não é nada e não consegue nada longe de Deus, a não ser fazer estratégias mesquinhas para se beneficiar egoisticamente. Essa é minha concepção de homem a partir de mim mesmo!
Mas como o Paulo fez a pergunta olhando nos meus olhos, penso que posso buscar dentro de mim uma resposta e que minhas experiências devem ser levadas em consideração.
Então ficou claro também que a resposta não seria 100% do Homem!
Já tenho duas respostas que, matematicamente, não se contradizem:
A santidade não “vem” 100% de Deus e nem 100% do Homem!
Então existe mesmo uma proporção? Mas o que é santidade?
Se eu me recorrer às minhas experiências responderia que a santidade é um fluir total de Deus no total do Homem.
E assim me parece que surge uma resposta.
Será que a santidade depende 100% de Deus e 100% do Homem?
Mas isso, matematicamente, é inviável!
Onde fica a ciência quando eu pergunto em que proporção Jesus era humano e era divino?
Onde fica a capacidade maravilhosa do homem de racionar diante de uma pergunta dessas?
Neste momento estou ouvindo uma música que diz assim:
“Sou humano demais pra entender que aqueles que escolheste e tomaste pela mão geralmente eu não os quero do meu lado...” (Fábio de Melo)
É a mais pura verdade! Os pensamentos de Deus estão muito mais altos do que os meus.
E isso não é um mero conformismo, é simplesmente minha realidade.
Não consigo entender Deus, definitivamente!
Dessa forma eu penso que minha resposta de que a santidade depende 100% de Deus e 100% do Homem não é contraditória ou simplista demais.
Só penso que ela é o máximo que posso chegar a refletir.
Deus é o dono de tudo, ele pode tudo e nesse mesmo poder escolheu que o Homem fosse livre.
O Homem tem um direito de escolha que não diferencia em nada do de Deus.
Deus quis assim! A liberdade é a base do Amor que Deus é e dá ao Homem.
Se, na minha condição de livre, eu não escolher ser santo, ninguém fará essa escolha por mim!
O máximo que pode acontecer é que eu posso ser usado na vida do outro e o outro pode ser usado na minha vida para esclarecer e vivificar o conceito de santidade.
Mas isso não muda em nada meu “poder” de escolha, ou seja, os 100% da santidade que dependem de mim continuam dependendo de mim.
Mas se não existisse Deus, a minha escolha valeria exatamente nada...
O que é a santidade a não ser o fluir de Deus em mim?
Isso prova os 100% da santidade que dependem de Deus.
Hoje tenho mais do que minhas duas certezas costumeiras:
Eu não sou santo e quero ser santo.
Hoje tenho a certeza que as crianças são mais santas do que eu...
Elas vivificam o conceito de santidade de uma forma muito plena...
Elas convivem bem com os 200% da origem da santidade...
Elas deixam que Deus flua na vida delas...
Quero ser como as crianças que não entendem nada de Deus e vivem tudo de Deus!
Será que é por isso que o reino dos céus é delas?

25 junho, 2006

pequena luz?

E se o pranto fosse feito tango
Que dançasse as formas de uma vida triste
E se a palavra fosse feito verso
Que exprimisse alegre o que ainda é triste

E se a distancia fosse feito amigo
Que a saudade emanasse choro mero e triste
E se a chuva fosse feito sol
Que invadisse com sua luz perfeita o meu quarto triste...

Oh luz!
Alta luz!
De onde vens que tenho medo?
Onde estás que não no meu escuro?
Pelo menos no que vejo

Oh tango, verso, amigo e sol!
Porque a tristeza te corrói?
Onde buscar a paz se a carência
É restrita de sonhos coléricos e desconcertantes?

Oh chave do céu!
Abre-me para a vida, abre-me para o certo!
Faz-me olhar na direção que acalenta
O meu interior sofrido de amor imperfeito

19 junho, 2006

E sobre as cores?

Elas que são flores, móveis e telepatias
Elas que abraçam, amenizam e quase curam
Uma profunda falsidade de avaliar os investimentos
Peraltas e dobrados de um ser inconstante

Elas que aquecem o verão
Elas que apedrejam o coração preto e branco
O coração cintilante
O azul escaldante de vontade quase própria

Elas que me chamam para fora
Elas que aterrissam no calçado pardo
Do sono profundo de um ser que não sou
Elas adulam a branca sede
De beber um copo maior do que minha mente

Elas que me enlouquecem
E redescobrem um pouco da verdade que pisca
No meu olhar pouco sincero.

Elas que são cores e quase me preenchem
Mas não respondem por elas mesmas
Não são auto-suficientes
Não são como Luz...