09 abril, 2006

Sou responsável pelo que não cativo...

Não acho que o Saint-Exupéry esteja errado na sua bela afirmação de que somos eternamente responsáveis pelos que cativamos, só acho que se Jesus Cristo lesse “O pequeno Príncipe” pregaria: “Se responsabilizar pelo que cativo é o começo para a criação do meu senso de coletividade, ou seja, aos poucos me tornarei responsável não só pelo que cativo...”.
Difícil é ter consciência de que se um irmão no outro lado do mundo sofre por alguma injustiça, eu, que sou um cantador do amor e da justiça, tenho muito a ver com essa situação!
No entanto, em nenhum momento eu o cativei, ou melhor, nem o conheço...
Hoje me proponho a refletir sobre a minha responsabilidade pelos que não gostam de mim, ou seja, pelos que estão próximos à minha pessoa e não se sentem cativados.
O que tenho a ver com eles?
Tudo! Sinto a voz do amor gritando dentro do meu coração...
Dois tipos de amor são bem distintos em minha opinião: o amor afetivo e o efetivo.
O amor afetivo é aquele declarado com gestos ou palavras. São as manifestações diretas de carinho. São os “eu te amo’s” e presentes. Talvez seja o meu CATIVAR numa maior proximidade da palavra com a realidade de hoje.
No amor afetivo tenho a possibilidade do “feed-back”. Posso sentir a resposta daquele que estou cativando. E mesmo que ele não me dê resposta, posso ter a certeza de que está recebendo o meu recado de amor! Caminho numa certa segurança de que os meus atos não estão sendo em vão...
Já o amor efetivo é bem diferente! É um amor que praticamente não tem retorno nenhum. É tipo quando tenho que jogar o lixo na lata com ninguém me olhando...
É fazer sem esperar nada em troca.
É o trabalho dos pais para sustentar os filhos. É defender o seu amigo de comentários injustos ainda que ele não fique sabendo de nada. É ter uma ótima idéia para agradar alguém e passar essa idéia para outra pessoa fazer em seu lugar e receber todos os “méritos”. É orar por uma pessoa que nunca ficará sabendo dessa minha atitude.
Penso que os dois tipos de amor têm suas particularidades, mas nem por isso um tem uma importância maior do que a do outro.
Penso ainda que na questão de amar meus “inimigos” ou ser responsável por aqueles que não cativo devo trabalhar mais com o amor efetivo, não dispensando, é claro, manifestações de carinho ainda que não tenha nenhum retorno.
Pelo menos nas situações que vivo hoje, não acho que manifestar meu amor diretamente por gestos e palavras seria uma coisa que ajudaria no meu relacionamento com aqueles que são indiferentes a mim. Pelo contrário, poderia dar mais razão pra pensarem que faço isso pra conquistar seus corações como faço com as outras pessoas e depois as uso para meu prazer!
Preciso, portanto, amar de um jeito diferente! Amar escondido. Amar de um jeito tal que quando meu “inimigo” se der conta já estará envolvido desse amor.
Não foi assim que Jesus fez? Ou Jesus morreu na cruz só pelos que Ele cativou?

Se sou chamado a imitar Jesus, sou chamado a também morrer pelo meu inimigo...
Parece ser muito duro esse ensinamento, mas não o tenho visto assim!
O amor tem me surpreendido bastante!
Cada dia mais concluo que a solução é viver de verdade os dois maiores mandamentos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo.
É assim que o amor tem se revelado muito mais leve do que eu imaginava...
Sempre pensava que me tornar responsável pelo que cativo fosse algo penoso demais!
Hoje vejo quão enriquecedora é essa missão.
Percebo ainda que tornar responsável pelos meus inimigos não é uma escolha, mas uma conseqüência do amor verdadeiro.
Quanto mais me aprofundo no amor, mas ele me dá tarefas para meu crescimento.
E essas tarefas não são peso, mas pacotes de ensinamentos...
São muito misteriosos os caminhos do amor, mas são revelados na hora certa!
Hoje, meu chamado, é aprender muito com os que discordam de mim. É perceber que se tem coisas em mim que o outro não gosta é porque ou devo “ensina-lo” gostar, se for uma coisa realmente santa, ou preciso mudar minhas atitudes.
Não me refiro a um ensinar insistente com ar de superioridade. Não é isso!
Mas a partir do momento que tomo consciência de que algo é bom pra mim preciso deseja-lo também para o outro, mas sabendo que ele terá um jeito muito diferente de apreender esse algo.
A minha abertura deve estar muito mais ligada ao mostrar que determinada coisa é boa pra mim mesmo do que querer impor que essa mesma coisa seja boa para o outro também.
O que é bom pra alguém deve ser bom pra mim só pelo fato de ser bom pra esse alguém e nada mais...
Ter pessoas que discordam de mim ao meu lado é uma oportunidade única de crescer no amor.
E devo estar bem certo de que são pessoas que não apareceram no meu caminho pra serem somente ajudadas, mas muito mais para me ajudarem.
Daí a minha grande responsabilidade com elas.
Os que não cativo são dádivas na minha formação do amor...
E me lembro de que o amor não se deixa prender pelo meu egoísmo, pois se ele cresce em mim consequentemente ele vai para o outro muito mais rapidamente.

Quero, Senhor, viver os teus mistérios de amor!
Ser fiel no primeiro chamado de te amar sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo, e assim descobrir o que tem por detrás desse mandamento que é tão contrário ao que o mundo me prega.
Oro pelos meus inimigos, pessoas que não cativo e pessoas que não se deixam cativar por mim.
Peço-te poder experimentar de situações que agucem o meu desenvolvimento de virtudes como humildade, paciência, alegria no sofrimento.
Agradeço-te por me escolher a também ser “vítima” do seu amor e me indignar cada dia mais com a falta de amor do mundo.
Pois assim tenho sofrido mais e consequentemente apurado o meu sentido para a felicidade.
A felicidade está nas pequenas coisas e o Senhor não cansa de me da-la!
Sinto que a cada tentativa de amar me aproximo mais da simplicidade...
Preciso da tua benção nesta busca!

Um comentário:

Anônimo disse...

nunca pensei no pequeno príncipe desta maneira... acho q vc me abriu um novo campo de visão... agora preciso reler mais uma vez o livro com esta perspectiva crítica