“Eu sou tão pequeno, mas posso ser profundo... Fazer as coisas muito simples, com o maior amor do mundo...”
Sim, posso ser profundo! Mas não é nada fácil quando me deparo com minha pequenez... Às vezes a gente tem a sensação que tudo está muito bem... Quando me sinto assim começo a pensar que cheguei num bom estágio da minha caminhada cristã. Mesmo sem refletir, tomo como verdade que já superei muitas dificuldades e me afasto bastante de quem realmente sou. Estou dizendo isso porque ontem vivi uma experiência muito simples, mas que me fez olhar pra mim como há um tempo eu não fazia. O fato é que eu me distraí com outra coisa enquanto alguém conversava comigo e depois a pessoa me perguntou: - Você prestou atenção no que eu disse? - Eu, mesmo inseguro, insisti em dizer: - Sim, eu prestei atenção no que você disse! - Então o que foi que eu disse? Eu disse umas palavras e pela cara da pessoa não tinha sido nada daquilo que ela tinha falado. Tamanha vergonha eu senti e acabei assumindo que tinha me distraído e não havia prestando atenção no que ela tinha dito. Mas disse num tom de justificativa, como se algo maior tivesse movido minha atenção e como se fosse impossível eu ter me concentrado na conversa por conta dos meus motivos. A pessoa ficou chateada e com razão! Apesar dela não ter falado, eu acho que foi mais por conta da minha mentira justificada do que pela minha distração. Sinto que o que incomoda mais os meus amigos não são as minhas limitações, mas minha arrogância em não assumir minhas limitações... Seria muito melhor se eu tivesse dito a verdade: “Sim, eu não prestei atenção no que você disse, pois me distraí...” Pude perceber que minha concepção de amor ainda continua errada... Penso que amo alguém quando escondo minhas limitações para valorizá-lo! Esqueço que o amor se alimenta da verdade... E o meu amor é perfeito e profundo, paradoxalmente no momento em que eu assumo que ele respeita os meus limites...
Uma vez perguntaram Dom Luciano o que era o céu... Ele disse que tinha sonhado que estava escondido atrás de uma árvore no alto de uma colina. De lá ele via muita gente alegre e sorridente, parecia que estavam realmente vivendo em abundância. E ele, “escondido”, se sentia extremante feliz por poder contemplar a gozo daquelas pessoas. Então intuiu: “O céu é assim... é se alegrar com a alegria dos outros, mesmo escondido!”
Dia desses me lembrei dessa história, mesmo tendo vivido uma situação um pouco diferente... Eu não estava escondido, mas frente a frente com um amigo triste. Sem saber como agir ou o que falar, também fiquei triste. Cheguei em casa e quis muito fazer alguma coisa por esse amigo. Rezei e chorei... Comecei a pensar se eu morreria pra que ele fosse feliz... E para minha surpresa eu vi dentro do meu coração uma coragem estranha... Me imaginei sendo levado para um cativeiro e quando eu pensava que eu morreria no lugar de outra pessoa eu me alegrava... Chorei mais ainda... Acho que foi gosto do céu que eu senti naquela hora... Depois apaguei a luz e fui dormir tranqüilo, normalmente... Agora já não sinto toda aquela coragem, mas compreendo que Jesus foi o homem mais livre e feliz desse mundo por que deu a vida pelos seus amigos!
Tenho percebido que uma das maiores dificuldades do homem moderno é de se permitir ser amado. Eu tenho uma suspeita do que venha a ser a causa dessa dificuldade... Além da nossa educação, que conta muito, tenho por mim que é “doloroso” ser amado... Pra fazer essa experiência, verdadeiramente, nós precisamos compreender que somos frágeis e que necessitamos de ajuda. Pra mim essa é a melhor definição de “arrependimento” que encontramos na bíblia como um requisito à salvação. Não se trata de um sentimento de culpa ou remorso continuo, mas de uma disposição em entender que o seu comportamento era o de uma pessoa um tanto ou quanto auto-suficiente, que por achar que podia controlar sua vida acabava se afastando de Deus e das pessoas ao seu redor. Seres humanos são limitados! Isso é um fato! E durante toda a nossa vida teremos necessidades uns dos outros. Penso que a dificuldade de nos deixarmos ajudar pelos amigos mostra muito do nosso relacionamento com Deus. Acho que é melhor ser “folgado” e “aproveitar” da boa vontade dos outros do que ser orgulhoso e não aceitar a mão de alguém. O “folgado” terá oportunidade, um dia, de olhar pra trás e perceber o quanto foi amado e assim se converter numa pessoa que também ama. O orgulhoso não terá essa oportunidade enquanto não experimentar, de fato, a misericórdia dos outros. Tenho passado por situações que exigem de mim uma humildade, que muitas vezes não tenho, para aceitar ajuda. Começo a perceber que esperdiço o amor de Deus por mim, através dos amigos, cada vez que não aceito a sua ajuda. Hoje eu sou muito grato a esses amigos, pois me ensinam o que é misericórdia e como ser misericordioso...