30 novembro, 2007

Ser santo é ser sofredor?

“No dia seguinte, depois da comunhão, senti nascer no meu coração um grande desejo de sofrimento e, ao mesmo tempo, a íntima certeza de que Jesus me reservava um grande número de cruzes. Senti-me tomada de tão grandes consolações que as vejo como uma das maiores graças da minha vida. O sofrimento tornou-se me atrativo, possuía encantos que me enfeitiçavam, embora não os conhecesse direito. Até então, tinha sofrido sem amar o sofrimento; a partir daquele dia, senti por ele um verdadeiro amor. Sentia também o desejo de só amar a Deus, de só encontrar alegria Nele. Frequentemente nas minhas comunhões, repetia estas palavras da Imitação: “Ó Jesus! Doçura inefável, transformai em amargura, para mim, todas as consolações da terra...” Essa oração saía sem esforço dos meus lábios, sem constrangimento. Parecei que a repetia não por vontade minha, mas como uma criança que repete as palavras que uma pessoas amiga lhe inspira...”
(TERESINHA, História de uma alma)

Ser santo é ser sofredor?
Acho que sim...
Mas devo entender que existem dois tipos de sofrimento: o sem sentido e o com sentido!
Penso que o sofrimento com sentido já transforma todo o clima negativo do verbo sofrer. Começo a perceber a dor como parte do caminho de santidade, e que ela não se explica por si só, assim como o prazer!
Ambos refletem uma realidade maior... e nem sempre consigo compreender isso!
Quantas vezes já pensei que a solução da minha vida seria se Deus me curasse completamente das minhas carências, dos meus traumas, dos meus limites...
Quanta ignorância sobre a santidade...
Ela está muito além dos meus problemas! Muito além...
Me lembro do texto em que Paulo diz que pediu ao Senhor para livrá-lo do seu espinho na carne, e o Senhor negou: “A minha graça te basta!”...
Ser puro, ser limpo, ser totalmente curado não quer dizer ser santo...
Hoje, devo confessar, que se talvez não tivesse o meu espinho na carne, poderia estar tão longe de Deus...
E estar longe de Deus é perder o sentido da vida!

Obrigado Senhor...
Obrigado por me deixar compreender um pouco o sentido da vida, através da compreensão do sentido do sofrimento...


E uma coisa me inquietava...
Por que Teresinha, no texto acima, se dispõe tão grandemente ao sofrimento?
E a resposta veio rápido...
Em um outro texto de sua autoria ela diz que queria ser vítima do amor de Deus, ou seja, todo amor de Deus que era “rejeitado” pelas pessoas, ela escolhia pegar pra ela!
Enfim, ela se sentia extremamente amada por Deus...
E uma das formas que ela fazia pra sentir isso era a através dos seus pensamentos...
Ela pensava muito, sobre todas as coisas do seu dia-a-dia e procurava encontrar Deus em cada detalhe, em cada simplicidade...
Quão pouco tenho feito isso...
Como sou preguiçoso pra pensar em toda graça que recebo a cada dia de vida!

Me ensina Senhor...
Me ensina a enxergar toda sua ação na minha vida e consequentemente me abandonar aos teus braços de forma plena, consciente e livre...

18 novembro, 2007

Eu preciso de você...

Fico pensando...
O que levaria Jesus a pedir favores para as pessoas?
Será que Ele só quis nos ensinar que precisamos pedir ajuda ao próximo?
Ou será que Ele vivendo a essência humana realmente sentiu necessidade do outro?

A minha reflexão tem me guiado no sentido dessa ultima opção...
Quando digo que dependo do outro e que preciso expressar isso para possuir a confiança dele, não quero dizer que preciso fingir um sentimento.
É real! Eu preciso de vc!
Muitas vezes sinto que fujo dessa constatação, que me humilha...
Claro que essa “dependência” do outro é benéfica no seu sentido mais profundo, não se trata de colocar nossa esperança nos homens...
Penso que seja um entendimento da essência humana. Uma busca pela experiência de transcender o tempo/espaço e assim encontramos o outro que faz parte dessa criação transcendente...
O outro, sendo imagem e semelhança de Deus, é também aquilo que eu mais procuro como sentido de vida...
É bem profundo isso!
Que o Senhor nos guie num entendimento necessário e nos dê Sua Graça para a vivência sadia da necessidade mútua dos homens!

06 novembro, 2007

Eu, pequena alma...

“...Espero tudo do Bom Deus como uma criancinha espera tudo do seu pai.”

Ao ler a biografia de Teresinha pude perceber todo o seu amadurecimento até chegar ao ponto de afirmar tão sinceramente essa profunda frase.
Infância espiritual é o nome que os teólogos dão à mística teresiniana. De fato, o paradoxo da santidade foi encarnado na vida dessa jovem. Quanto mais mergulhava nos mistérios divinos, mais ela era simples e falava de amor de uma forma tão verdadeira.
Como é difícil esperar tudo do Bom Deus!
Ou melhor, como é difícil, antes de tudo, ter fé na imagem do Bom Deus...
A primeira graça que Teresinha acolheu foi a purificação de sua imagem de Deus.
Deus é bondade em sua essência...
Vejo que um motivo para nossa dificuldade em entender e viver essa verdade plenamente está no fato de não termos exatamente nada que se compare à bondade de Deus.
Depois de estudar um pouco de sociologia estou convencido de como a educação influencia na formação de uma cosmovisão.
Esperar tudo do Bom Deus é o caminho contrário do que aprendemos no sistema sócio-econômico Capitalista. Somos criados na cultura do “fazer por onde”, “fazer por merecer” e nos desvencilhar disso é realmente trabalhoso!
Dessa forma, considero muito ativa essa espera em Deus. É uma luta!
É um constante “vender todos os bens e dá aos pobres”!
Mas é tão confortante saber que existe um caminho de santidade tão simples que espera por mim...
Abandono, confiança, humildade e amor!
Eis as chaves que Jesus colocou nas mãos de Teresinha, e hoje coloca nas minhas também.
Não nasci para grandes obras, mas nasci pra ser santo!
Por isso me identifico tanto com Santa Teresinha, alma pequena, como ela mesmo se considerava...
Desconheço uma pessoa que viveu tão plenamente em apenas 24 anos!

Eu te louvo, ó Deus, por me dar o conhecimento dessa santa que mergulhou na tua vida.
Obrigado Jesus, pois a Graça dispensada a Teresinha chegou até mim!